quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

RELATÓRIO DA INTERVENÇÃO


UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
Faculdade de Artes Visuais
Licenciatura em Artes Visuais
Disciplina: Estágio Supervisionado III
Profª: Orientadora: Flávia Cirqueira.
Aluna; Edna I. Roldão Leite
Pólo: Catalão Goiás

Relatório da Intervenção Artístico Pedagógica

Ao andar pela cidade comecei a contemplar tudo o que estava ao meu redor à procura de algo que despertasse em mim algum motivo de alegria, frustração, desespero, ou seja, algo que me incomodava ou agradava, para que eu pudesse descobrir como fazer a intervenção pedagógica para o estagio supervisionado III.
Assim a cidade tornou-se um relato aberto para minha procura, passei por lindos jardins nas calçadas, por vendedores de algodão doce, um catador de garrafas pet em sua bicicleta, até os ternos de congos surgiram em meu caminho.
Mas era tudo muito comum ao meu dia a dia, e não achei aquela magia que despertasse em mim algo satisfatório.  
Desta forma não consegui confrontar versões e interpretações diferentes a respeito de fatos e situações conhecidas.
Dialoguei com meus orientadores, passei fotos de alguns lugares que poderia ser possíveis portas, mas ainda sentia aquele vazio.
Após muito pensar resolvi redirecionar o meu andar para o lado oposto da minha residência.
Ao fazer o trajeto do meu percurso até a porta de entrada do estagio III, contemplei várias culturas, a qual visível aos olhos de quem quer ver, ou seja, aos olhos de observadores que procuram algo que lhe seja educador para si.
Seguidamente passei em frente ao décimo quarto Batalhão de Policia, vi vários carros e motos aprendidos, um policial na guarita fazia a proteção da entrada.
Ao lado do Batalhão tem a UFG e lanchonetes, cujo local é muito  movimentado neste percurso.
Virando para o Bairro Ipanema uma esquina ao lado deste ambiente movimentado, tudo corre na mais calmaria possível, até parece um bairro fantasma, algumas pessoas passando pela rua, portas das residências e igreja fechadas, com cartazes na porta dizendo os horários de reuniões.
Passando para o bairro Leblon, deu a impressão de que o tempo parou, pois havia somente algumas construções novas surgindo neste bairro com lotes vazios e animais pastando o capim totalmente seco.
Assim, no final deste loteamento uns aglomerados de prédios novos levantam-se todos imponentes em contraste com o bairro ao lado (Cruzeiro) no qual existem construções pobres.
Em meio a estas observações contemplei alguns transportes chegando e deixando alunos em uma associação da Pestalozzi, vi pessoas com diversos tipos de deficiências, mas todos com um sorriso estampado no rosto.
Movida por uma força maior aproximei, fui recebida por pessoas com necessidades especiais que vinha ao meu encontro com os braços abertos, chamando-me de minha amiga.
Fui convidada a entrar e observei diversos tipos de oficinas e atividades recreativas, os alunos conversam sobre diversos assuntos, ouvem radio, ou algum cd de músicas que mais gostam, existe um clima de paz e alegria.
Envolvida naquele clima de harmonia senti a necessidade de contribuir de alguma forma.
Em conversa com as professoras disseram que os alunos ficam muito empolgados com atividades novas. Então percebi que havia encontrado a minha porta de entrada, em que eu poderia ajudar de alguma forma.
Assim utilizei uma abordagem etnográfica com observação,  anotação em meu bloco de notas e  entrevista com profissionais que trabalha no local.
Após várias visitas e entrevista com a direção sobre o processo educativo dos alunos, relatei sobre o meu estágio. Com isso, as portas foram abertas para a intervenção pedagógicas.
 Diante desta porta a qual investiguei e constatei que existe somente natação, fisioterapia, fonoaudilogia, dentista, futebol, artesanato em tapete, enfeites com alguns vasos, percebi que ali eu poderia fazer a minha porta de entrada, foi quando constatei que este lugar não tem aulas de pinturas, e eu estando disposta a querer algo diferente, pretendia desenvolver minha intervenção com os alunos desta instituição.
Elaborei minha proposta que foi apresentada a direção, a qual  achou interessante porque naquele lugar nunca houve alguém que fizesse este tipo de projeto.
 Em diálogos com meus orientadores educacionais relatando as características da minha porta de entrada, passei a execução da proposta.
 Em abordagens etnográficas com um grupo de alunos escolhidos para a intervenção, descobri que eles gostavam de desenhar com giz de cera, lápis de cores e até pintar com tinta guaches.
Falei para esses alunos sobre a minha intervenção pedagógica, percebi interesse por parte deles.
 Fiquei animada, pois vi que a minha intervenção iria funcionar. Corri atrás de patrocínio e logo consegui dez telas pequenas, além de pinceis de uma papelaria.
 Parece que o céu estava abrindo para mim, pois neste dia conheci a artista plástica Lara Lane, e em conversa relatei sobre a minha proposta de intervenção, ela ficou interessada e pediu para auxiliar, além de doar as a tintas guaches a instituição  também doou os sacos de lixos para usarmos como aventais.
Diante disso, consegui uma aliada em minha proposta, a artista plástica Lara Lane, através dela os alunos conheceram de perto um ateliê e obtiveram contato com diversos materiais de pintura e telas.
A parceria com esta artista plástica foi muito importante, pois ela explicou algumas técnicas de pinturas e também várias formas de passar texturas em telas, como obter as cores secundárias.
Aproveitamos o percurso da nossa caminhada ao ateliê, fizemos uma visita a Fundação Cultural Maria das Dores Campos, onde o aluno obteve contato com outros tipos de pinturas, de instrumentos musicais e biblioteca.
Dando seqüência a proposta de intervenção pedagógica, assistimos na sala de computação um pequeno trailer do youtube sobre: Jackson Pollock e sua arte, artista o qual os alunos embasariam suas pinturas abstratas. A escolha por este artista é porque ele foi um representante máximo do expressionismo abstrato, o qual desenvolveu técnicas como o splashing ou o dripping, que consistentes em lançar pintura ao lienzo ou a deixar gotejar em cima deste (action painting) sem utilizar desenhos nem esquemas.
Assim os alunos poderiam utilizar suas técnicas isto facilitaria para eles comporem as suas pinturas, já que muitos desses alunos têm a coordenação motora bem comprometida, e deixando a tinta pingar sobre a tela iria realizar um trabalho semelhante à arte abstracionista de Jacksom.
Apresentei os materiais aos alunos, coloquei uma musica instrumental somente toque, para que pudesse ficar bem descontraídos, e seguidamente começamos a por as mãos em obras, partimos para fazer as texturas nas telas, onde alguns contratempos foram surgindo, tais como: massa corrida caindo no chão, alunos que não queriam sujar as mãos. Contudo, contratempos passageiros que foram solucionados rapidamente.
Percebi a felicidade estampada nos rostos dos alunos surgindo quando passaram  as mãos e notaram que poderiam fazer diversos movimentos com os braços, algo que para alguns eram um pouco complicado.
Após a textura ficar seca começamos a utilizar as tintas guaches de diversas cores, uns queriam passar com as mãos, outros queriam usar os pinceis apoiados em vez de pingar tintas iguais ao pintor Pollock, outros seguiam fielmente a forma do artista.
Levamos quase uma semana para a concretização das pinturas, pois tínhamos que deixar as tintas secarem para depois aplicar outras camadas de tinta de outras cores, porque senão eles iriam colocando uma tinta sobre a outra, sendo preciso às vezes até limpar os excessos.
Achei melhor não distribuir as tintas todas de uma vez, pois alguns não tinham muito controle motor sobre as mãos o que poderiam derrubar os materiais. Foi entregue uma cor de cada vez,  quando sujavam os pinceis eles mesmos iam ao lavatório para lavá-los e aproveitavam  convidando outros alunos para verem suas obras, a sala de aula parecia uma passarela de tantos visitantes que recebemos neste período, tanto alunos como professores que iam para observarem os trabalhos.
A instituição ficou um alvoroço, pois outros alunos queriam participar, os professores elogiavam os trabalhos o tempo todo,  os novos artistas todos os dias perguntavam se já podiam levar para casa as suas produções, eu respondia que só iriam levar quando fizéssemos a exposição.
Ao final das pinturas peguei uma cartolina branca e carimbei as digitais de suas mãos com tintas de várias cores, recortei e contornei a janela onde seriam colocadas as telas para a exposição, com a frase: “O mundo tem a cor que você pinta”.
Para nossa surpresa a artista plástica visitou-nos em nossa exposição, a qual tirou fotos juntamente com os alunos.
Brinquei com os alunos pedindo uma tela deles de presente. Não consegui ganhar nenhuma, pois diziam que a mamãe queria ver e eles iriam colocar na parede da sala da casa deles.
A felicidade de poderem levar o trabalho para casa feito pelas suas próprias mãos e mostrarem para seus pais era maior do que me presentear.
Finalizei as pinturas passando uma camada de verniz para dar um brilho, que ficou maravilhoso, não deixei os alunos passarem o verniz por ter um cheiro muito forte. A diretora fotografou todos os momentos e disse que irá ficar guardado para a instituição, pois foi algo renovador para aquele meio,  cuja intervenção auxiliará para acrescentar como atividades em seu plano de curso.
Enfim, chegamos ao final de nossas produções com nossos corações felizes de poderem realizar com prazer estas atividades e descobrir que auxiliei no desenvolvimento individual que contemplou informações de natureza física, psíquica, sócio-afetiva e psicomotora, além de enfatizar o aspecto funcional e habilidades dos alunos, em que os procedimentos artísticos propiciaram a exploração através de atividades de pintura abstrata, as quais visaram o desenvolvimento do percurso de criação pessoal com predominância comportamental. Exercitaram, também, a coordenação motora (fina e grossa), atenção e desenvolveram a criatividade de forma inovadora.
 Para concluir, com esta mensagem de um autor desconhecido:
Se você deixa de ver a pessoa, vendo apenas a portadora de necessidades especiais, quem é o cego?
Se você deixa de ouvir o grito do seu irmão para a justiça, quem é o surdo?
Se você não pode comunicar-se com sua irmã e a separa, quem é o mudo?
Se sua mente não permite que seu coração alcance seu vizinho, quem é o deficiente mental?
Se você não se levanta para defender os direitos de todos, quem é o aleijado?
A atitude para com as pessoas com necessidades especiais pode ser nossa maior deficiência...
E a sua também.
(autor desconhecido)


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